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quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O PECADO, OS PECADOS E O PECADOR - IV

Watchman Nee

O Maior Pecado
Vimos as questões do pecado, dos pecados e do pecador. Por nascimento somos pecadores, e nossa conduta condiz com o nosso título de pecador. Há muitos “cavalheiros” neste mundo que ocultam seus pecados e não admitem que são pecadores. Mas isso não significa que não sejam. Somente significa que estão disfarçados como pessoas sem pecados. Somos pecadores por nascimento e nossa profissão e procedimento é cometer pecados. Permita-me repetir que não é porque pecamos que nos tornamos pecadores; pelo contrário, por sermos pecadores é que pecamos. O fato de sermos pecadores é que nos leva a pecar. Quem pode pecar prova que é pecador.

Temos alguns amigos ocidentais aqui conosco. Talvez todos eles falem o dialeto de Xangai. Os de Xangai certamente podem falar o dialeto deles. Mas não podemos dizer que todos os que falam o dialeto de Xangai são de lá. Muitos têm se esforçado muito para aprender esse dialeto, mas eles não são de Xangai. Por outro lado, pode haver alguns de Xangai que não falem o próprio dialeto. Não podemos dizer que por não falarem o seu dialeto não sejam de Xangai. Eles são de lá, mas são os de Xangai que não conseguem falar o dialeto de Xangai. Entretanto, há muito poucos de Xangai que não falam o seu dialeto. Genericamente falando, todos os de Xangai falam seu dialeto. É algo natural que falem o dialeto de Xangai. Da mesma forma, é praticamente impossível que os que têm uma vida de pecador não tenham um viver de pecador.

Sobre os pecados que pecadores cometem, prefiro não listá-los em detalhes, como muitos têm feito. Gostaria apenas de brevemente mostrar o pecado do homem. Tanto no Novo como no Antigo Testamento, existem alguns pecados que se destacam de modo especial. No Antigo Testamento, um pecado que se destaca é o de não amar a Deus. No Novo Testamento, há também um pecado que se destaca de modo especial: o de recusar-se a crer no Senhor. Quando a Bíblia diz que o homem está condenado e tornou-se pecador aos olhos de Deus, não quer dizer que ele cometeu uma multidão de pecados os quais acarretaram a ira de Deus; pecados tais como homicídio, fornicação, orgulho, libertinagem, prostituição, o vício do jogo e outros tipos de pecados imundos e ocultos. Isso não é o que a Bíblia enfatiza. O que a Bíblia considera sério é o problema que se levantou entre o homem e Deus. O fim da lei é amar ao Senhor nosso Deus de todo o coração, de toda a alma, de todo o entendimento e de toda a força (Mt 22:36-37; Mc 12:30). Assim, a questão não é se alguém roubou dos outros ou se cometeu homicídio ou planejou um incêndio. A questão não está nas concupiscências ou pensamentos ou palavras. Pelo contrário, a questão é o problema do relacionamento entre o homem e Deus.

Dentre todos os pecados, há um que encabeça a lista. Este pecado introduz todos os demais. Por meio dele todos os outros se sucederam. A Bíblia diz que o pecado entrou no mundo por um só homem (Rm 5:12). Quero perguntar-lhes:

Qual foi o pecado que este homem cometeu? Foi fornicação, roubo, homicídio, incêndio criminoso? Não havia coisas semelhantes no Éden. Todas as coisas malignas, imundas ou terríveis que ocorrem no mundo hoje tiveram origem naquele incidente único envolvendo Adão. Que fez Adão? Adão não assassinou, não cometeu fornicação, ele não cometeu nenhum dos pecados malignos e sujos do mundo de hoje. O pecado que Adão cometeu foi simples. Adão achou que Deus estava escondendo algo dele. Ele pensou que se comesse do fruto daquela árvore seria como Deus. O pecado que Adão cometeu foi na verdade um problema que se desenvolveu entre ele e Deus. Deus esperava que Adão permanecesse em sua posição. Contudo, Adão não acreditou que aquilo que Deus lhe havia dado fosse proveitoso para ele. Ele começou a duvidar do amor de Deus. Um problema surgiu, então, em relação ao amor de Deus.

Adão não cometeu muitos pecados nesse incidente. Ele não se envolveu em jogatinas, não olhou para coisas malignas nas ruas, não leu livros malignos. O pecado de Adão foi um problema que surgiu entre ele e Deus. Em decorrência disso todos os tipos de pecados se sucederam. Os pecados são segundo a sua espécie, e todos eles vêm um após outro. Entretanto, o primeiro pecado não é o que imaginamos. O primeiro pecado foi o único pecado no Antigo Testamento: o de não amar a Deus. Depois que se desenvolveu um problema entre o homem e Deus, os problemas entre os homens começaram a aumentar. No jardim do Éden, surgiu um problema dentro do homem; depois, fora do jardim do Éden, o irmão mais velho assassinou o mais jovem e todos os tipos de pecados se seguiram. Portanto, vemos que os pecados não começaram de maneira séria e suja, como podería mos imaginar. A Bíblia mostra-nos que os pecados começaram com algo muito simples. Mas, na verdade, o primeiro pecado foi o mais sério — um problema entre o homem e Deus.

Quando examinamos o Novo Testamento, vemos o Senhor Jesus dizendo muitas vezes que o que crê tem a vida eterna (Jo 3:15-16, 36; 5:24; 6:40, 47; 11:25). Provavelmente exista cinqüenta ou mais passagens nas quais o Senhor afirma que quem crê tem a vida eterna. Quem serão, então, os que vão perecer? Serão os assassinos que irão para o inferno? Serão os fornicadores que irão perecer? São os que têm pensamentos imundos e conduta inadequada os que irão para a perdição? Não necessariamente. O Evangelho de João diz-nos repetidamente que os que não crêem serão condenados (3:16, 18). Os que não crêem sempre têm sobre eles a ira de Deus (3:36). O Senhor Jesus disse que o Espírito Santo veio para convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16:8). Por que do pecado? Será porque você tem ido ao cinema ultimamente? Seria porque você tem feito apostas ultimamente? Seria porque você assassinou alguém ou provocou um incêndio? Não. “Do pecado, porque não crêem em mim” (16:9).

A maior dificuldade que encontramos hoje é que a imundícia nós consideramos pecado, mas não damos muita atenção à Palavra do Senhor para vermos o que Deus considera pecado. O Senhor disse que quem não crê já está condenado. O motivo de o homem cometer pecados é que ele não tem um relacionamento adequado com o Senhor Jesus. No Antigo Testamento, quando o homem deixou de ter um relacionamento adequado com Deus todos os tipos de pecados foram cometidos. No Novo Testamento, quando o homem deixa de ter um relacionamento adequado com o Senhor Jesus é que todos os tipos de pecados são cometidos. Aqui residem todos os problemas. Enquanto está atento a esta mensagem, você pode achar que apesar de eu ter provado que você é um pecador, na verdade, você não cometeu muitos pecados. Mas ninguém no mundo pode dizer que não cometeu o pecado de não amar a Deus. Tampouco existe alguém no mundo que possa dizer que não cometeu o pecado de não crer no Senhor. Por isso, ninguém pode dizer que não é um pecador.

Você se lembra de Lucas 15? Ali há um filho pródigo e seu pai. O filho pródigo deixou o pai e desperdiçou sua herança. Mas quando o filho pródigo tornou-se pródigo? Era ele pródigo quando tinha muito dinheiro em seu bolso e vivia prodigamente em uma terra distante? Ou tornou-se pródigo somente após ter gasto tudo o que possuía e começou a passar fome, desejando fartar-se da comida dos porcos? Na verdade, tornou-se um pródigo no dia em que deixou a casa de seu pai. Antes mesmo de gastar um centavo, ele já era um pródigo. Ele não se tornou um pródigo somente após ter gasto tudo o que tinha e estar alimentando os porcos e a si mesmo com alfarrobas e enquanto suas vestes estavam rasgadas e seu estômago vazio. Ele tornou-se um pródigo no momento em que deixou a casa de seu pai. Deixe-me fazer-lhe uma pergunta. Suponha que o filho mais novo não tivesse gasto nenhum dinheiro quando estava fora. Em vez disso suponha que ele tivesse ganho muito dinheiro, feito negócios, fortuna e se tornado até mesmo mais rico que seu pai. Teria sido ele ainda um pródigo? Sem dúvida que sim. Aos olhos de seu pai, ele ainda teria sido um pródigo.

Hoje há um conceito muito forte que deve ser desarraigado da nossa mente. Achamos que por falhar em fazer o bem, o homem torna-se um pecador. Isso está totalmente errado. Desde que um homem tenha-se apartado de Deus, ele é um pecador. Mesmo que seja um homem dez vezes mais moral que outros, tão logo esteja apartado de Deus, ele é um pecador. Você deve lembrar-se, portanto, de que como cristãos, podemos executar todos os serviços exteriores que há para serem feitos, e podemos cumprir todos os deveres exteriores que devam ser cumpridos; podemos orar como sempre fizemos, podemos ler a Bíblia e frequentar as reuniões da igreja como sempre fizemos; podemos fazer tudo o que sempre fizemos e podemos até fazer mais. Contudo, se existe um problema entre nós e Deus, estamos pecando. Quando o primeiro amor se vai, há um problema. Quem é pródigo? Não é simplesmente o que desperdiçou os bens de seu pai e, sim, o que deixou a casa de seu pai. No momento em que alguém deixa a casa de seu pai, torna-se um filho pródigo. Mesmo que faça fortuna lá fora, ainda é um filho pródigo. É claro que nunca haverá um pródigo que faça fortuna no mundo. Um pródigo jamais prosperará. Um pródigo sempre desperdiçará todo o dinheiro que tem. Deus permite que o “dinheiro” seja dissipado, de modo que o homem saiba que não é bom apartar-se de Deus e perceba, por fim, que é um pecador.

Agora vemos como recebemos a qualificação de pecador e como nos tornamos pecadores. Tornamo-nos pecadores desenvolvendo um relacionamento com o pecado, e cometemos pecados desenvolvendo um relacionamento com os pecados. Há uma diferença entre os dois. Visto que nasci em Adão e estou sob o domínio do pecado, este tornou-se o princípio da minha vida e do meu viver e tornei-me um pecador. Por semelhante modo, os muitos pecados individuais fora de mim fizeram de mim alguém que comete pecados. Cometer pecados tem a ver com pecados e ser pecador tem a ver com pecado.



Fonte: www.estudobíblico.com.br 

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