Watchman Nee
A MORTE DO SENHOR É PARA DEUS E SUA RESSURREIÇÃO É PARA NÓS
Assim, há esses dois lados na Bíblia. Sem a morte do Senhor Jesus por nós, não teríamos sido redimidos de nossos pecados. A Bíblia diz que Jesus morreu pelos nossos pecados. Mas vemos que nós mesmos permanecemos nos pecados. Embora Deus tenha terminado Sua parte da obra, do nosso lado, os problemas ainda não se resolveram. Por essa razão o Senhor Jesus teve de ressuscitar antes de sabermos que nossos pecados foram perdoados. A morte é para Deus, e a ressurreição é para nós. A morte é exigência de Deus e a ressurreição é exigência dos pecadores. A morte é a solução do pecado diante de Deus e a ressurreição é a remoção da dúvida no coração do homem. Com a morte, o registro do pecado é extinto. Com a ressurreição, ganhamos a prova do perdão e o veredito de inocentes. Graças ao Senhor pela ressurreição. Que acontece quando alguém se achega a Deus e quer saber se está salvo ou não? Tal pessoa pode ter crido verdadeiramente no Senhor Jesus Cristo. Mas ela ainda pode ter dúvida se está realmente salva. Agora, diante de Deus, o recibo já foi emitido. Se tal pessoa ainda quer duvidar, é porque ela escolheu a dúvida. Mas, se o Senhor Jesus ressuscitou, então nossos problemas foram resolvidos.
Por favor, lembrem-se dessas três passagens — Romanos 4:25, 10:9 e 1 Coríntios 15:17. Esses três versículos nos mostram que a ressurreição foi cumprida por nós objetivamente. Até agora, vimos alguns itens: o pecado, a lei, a graça, a justiça de Deus, a obra realizada pela morte do Senhor Jesus e a obra realizada por Sua ressurreição.
Um irmão perguntou: Que significa 1 João 2:2? Eu responderia da seguinte maneira: As palavras “os pecados de” na frase “Pelos [pecados] do mundo inteiro” em algumas versões não existem no texto original. A versão revista e atualizada de João Ferreira de Almeida diz: “E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro”. Se esse fosse realmente o caso, então todo o mundo já teria sido salvo, pois o Senhor Jesus se tornou propiciação pelos pecados do mundo todo. Mas no grego se lê: “E Ele mesmo é a propiciação pelos nossos pecados: e não só pelos nossos, mas também por todo o mundo”.
Para um leitor do Novo Testamento entender a redenção do Senhor e Sua substituição, primeiro ele tem de saber a distinção entre nós mesmos e nossos pecados, isto é, entre o pecador e os pecados do pecador. Segundo, ele tem de saber a diferença entre todos e muitos. Terceiro, ele deve saber a diferença entre pecado e pecados. Há diferença entre os três pares de coisas: nós mesmos e nossos pecados, todos e muitos, e pecado e pecados.
A Bíblia diz muitas vezes que o Senhor Jesus morreu por todos. Mas nem uma vez ela disse que o Senhor Jesus morreu pelos pecados de todos. Em 2 Coríntios 5:14 diz-se que: “Um morreu por todos; logo todos morreram”. Paulo não podia dizer que desde que Um morreu pelos pecados de todos, todos morreram. O Senhor Jesus morreu por todos. Mas Ele não morreu pelos pecados de todos. Se o Senhor Jesus tivesse morrido pelos pecados de todos, então, crendo ou não, a pessoa poderia ser salva, pois todos os problemas de pecados estariam resolvidos. Mas o Senhor Jesus morreu por todos. Se formos a Ele, recebê-Lo-emos como nosso substituto e receberemos Sua redenção.
A Bíblia realmente diz que o Senhor Jesus morreu pelos pecados. Mas nesses casos, ela diz que Ele morreu pelos pecados de muitos e não pelos pecados de todos. Na noite passada, um irmão testou-me com um versículo. Ele me perguntou por que o livro de Hebreus diz que o Senhor Jesus foi oferecido por nossos pecados. Hebreus 9:28 diz: “Assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação”. Você pode ver que aqui, quando fala sobre Cristo tirar os pecados, é dito “para tirar os pecados de muitos”, e não “para tirar os pecados de todos”. A seguir, ele dá uma explicação: “Segunda vez aos que o aguardam”. Isso diz respeito a todos os que foram comprados pelo sangue. Estes são a grande multidão em Apocalipse 7:9-17. Esses são os muitos. Eis por que é dito que Ele foi oferecido pelos pecados deles. Mas não se pode dizer que Ele foi oferecido pelos pecados de todos. As palavras na Bíblia nunca são vagas, indefinidas. Se Cristo veio para tirar os pecados de todos, se Ele veio para tirar todos os pecados de todos no mundo, então não mais temos de pregar o evangelho. Mas este não é o caso. O que nós temos são os muitos.
Então, Mateus 26:28 relata que quando o Senhor Jesus tomou o cálice, Ele disse: “Porque isto é o Meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado por muitos, para perdão de pecados”. Novamente aqui temos muitos, e não todos. Se fossem todos, então os pecados de todas as pessoas estariam perdoados. A Bíblia apenas diz que o Senhor Jesus morreu por todos. Esta palavra simplesmente nos mostra que a morte do Senhor é algo aberto e que todos podem receber o benefício de Sua morte. Se houver alguém aqui que não seja salvo, esta noite eu gostaria de dizer que Cristo morreu por você. Mas, quanto a mim, o Senhor Jesus morreu pelos meus pecados. Assim que pedir isso, a eficácia da morte do Senhor operará sobre você e você terá parte nela. Mas você deve vir a Ele antes que a eficácia da morte do Senhor possa ser sua e possa operar em você. O Senhor Jesus morreu por todos, e Ele morreu pelos pecados de muitos. Há uma distinção entre os dois. Temos de atentar para isso.
Vamos ler mais duas passagens. Romanos 5:18-19 diz: “Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos”. Se quisermos entender esses dois versículos, devemos ponderar sobre eles e prestar atenção a eles. Os leitores da Bíblia concordam que esses dois versículos são alguns dos mais difíceis no Novo Testamento. Devemos prestar atenção às palavras deles: Primeiro, no versículo 18 é dito: “todos os homens”, mas no versículo 19, é dito “muitos”. Segundo, no versículo 18 há a palavra grega eis, que é equivalente à palavra portuguesa para ou em direção a. Uma versão traduziu essa porção da seguinte maneira: “Pela ofensa de um, o juízo veio sobre todos os homens para condenação; da mesma forma, pela justiça de um o dom gratuito veio sobre todos os homens para justificação de vida”. Essa não é uma tradução muito fiel. O versículo pode ser assim traduzido: “Por meio de uma ofensa para condenação a todos os homens, assim também foi por meio de um ato justo para justificação de vida a todos os homens”. Agora devemos atentar mais minuciosamente nesse assunto. O versículo 18 fala sobre uma ofensa e o versículo 19 fala sobre um homem. A ofensa denota o pecado de Adão (Rm 5:14). O pecado de Adão foi para a condenação de todos os homens. Isso significa que aquela ofensa foi para a condenação de todos os homens. Perceberam que uma única vez foi o bastante? É como dizer que uma vez que uma pessoa faça fortuna, ela está preparada para comprar muitas coisas. A ofensa única foi para a condenação de todos os homens. Do mesmo modo, o ato único de justiça de Cristo foi para a justificação a fim de dar vida a todos os homens. Não é correto traduzir o versículo como a versão anteriormente mencionada o faz, pois isso significaria que por meio do único ato de justiça de Cristo, todos foram justificados e receberam vida. Qual é o significado de eis traduzido por “para” nesse versículo? Significa uma preparação. É como a impressão de muitas cédulas pelo governo no Banco Central. É uma preparação para, mais tarde, serem usadas para trocas. Mesmo que todos venham trocar as notas, o governo está preparado. O versículo 18 diz todos os homens. Isso significa que todos podem receber vida. Não há problema a esse respeito. Mas o versículo 19 é diferente; ele diz: “Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos”. Aqui temos os muitos. Pela desobediência de um homem, que é Adão, os muitos são feitos pecadores. Aqui não diz que todos os homens se tornaram pecadores. Por que isso é assim? Deixem-me dar-lhes um testemunho honesto. Pode parecer que eu esteja brincando. Mas seis anos atrás, quando li pela primeira vez sobre a diferença entre muitos e todos, eu estava um pouco preocupado com o apóstolo Paulo. Enquanto procurava o texto original, pensava que se Paulo usasse as palavras da forma que nossos tradutores fizeram, seria um desastre. Eu estava quase orando ali: “Não permita tal palavra ser todos, mas muitos”. Finalmente, descobri que realmente é muitos. Que significa dizer que pela desobediência de um todos os homens foram condenados? Isso significaria que todo o que está em Adão é pecador. Não haveria um justo sequer. Isso não seria tão sério. Mas a frase seguinte seria mais séria: Por um só ato de justiça, todos os homens foram justificados. Isso significaria que o evangelho não precisa mais ser pregado a quem quer que fosse, pois todos estavam salvos e justificados. Não há aqui menção da questão de crer ou não, e receber ou não. Por meio da obediência de um todos foram salvos. Até os incrédulos seriam salvos. Mas esse, logicamente, não é o caso. O que diz aqui é: “Por meio da obediência de um, muitos se tornarão justos”. Por isso, o que a obra do Senhor Jesus fez é para os muitos. Aqui, deve-se diferenciar todos e os muitos.
Ao mesmo tempo, devemos diferenciar entre nós mesmos e nossos pecados. Romanos 5:8 diz que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Mas 1 Coríntios 15:3 diz que “Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras”. “Por nós” é uma preparação. Mas “pelos nossos pecados” é uma espécie de percepção. Mesmo que uma pessoa não tenha sido salva, ela pode até pregar o evangelho. Mas ela só pode dizer que Deus enviou Seu Filho para morrer por nós. Isso está absolutamente certo. Mas somente os que foram salvos podem dizer que Deus enviou Seu Filho para morrer por nossos pecados. Isso é porque nosso relacionamento com o Senhor Jesus é na questão dos pecados. Assim, podemos dizer que o Senhor Jesus morreu por nossos pecados. Em 1 Pedro 2:24 diz-se: “Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados”. Há uma diferença aqui. Podemos apenas dizer para um pecador que o Senhor Jesus morreu por ele; não podemos dizer-lhe que o Senhor Jesus morreu por seus pecados.
Se eu ilustrar isso por meio de um simples exemplo, isso irá ajudá-lo a entender melhor. Suponha que tomei dinheiro emprestado, mas não tenho como pagar. Um irmão sabe que o número da minha conta no Banco de Xangai é 51. Suponha que ele deposite uma quantia nessa conta. Então ele me escreve dizendo que depositou para mim uma quantia no banco e que agora posso reparar minha dívida. Ele depositou o dinheiro e sacrificou-se para arrumar esse dinheiro para mim. Mas deixem-me perguntar-lhes: A minha dívida já foi quitada? Eu posso saldar a dívida. O dinheiro está no banco. Mas o débito não foi quitado ainda. Somente quando eu for pessoalmente ao banco e retirar o dinheiro e quitar o débito é que posso dizer que esse irmão pagou o débito por mim. Da mesma forma, o Senhor Jesus morreu por nós. Essa morte foi preparada para nós. Mas é somente quando recebemos o Senhor Jesus que podemos dizer que Ele morreu por nossos pecados. Então, irmão, quando você citar 1 João 2:2, você deve ser cuidadoso com as palavras. Jesus Cristo se tornou a propiciação pelos nossos pecados, e não somente por nós, mas também por todo o mundo!. Vocês podem ver quão minucioso o Espírito Santo é ao escolher as palavras por intermédio de Seu apóstolo. O Senhor Jesus morreu por nossos pecados. Mas a morte do Senhor Jesus não foi apenas por nós, mas por todo o mundo, para que todo o mundo possa receber essa morte. É necessário atentar nisto: Não acrescente as palavras os pecados a “todo o mundo”. É uma pena que muitos não tenham visto isso. Não podemos acrescentar coisa alguma à Palavra de Deus nem podemos subtrair coisa alguma dela (Ap 22:18-19).
Finalmente, ainda há uma coisa que precisamos enfatizar. É a diferença entre pecado e pecados. Não podemos dizer que o Senhor Jesus morreu pelos pecados de todo o mundo, pois pecados significam todas as transgressões e todas as punições que devemos sofrer. Se o Senhor Jesus veio morrer pelos pecados de todo o mundo, então todas as transgressões de todo o mundo foram removidas. Se um homem crer ou não, ele está salvo. Mas a Bíblia é muito cuidadosa no uso das palavras. Ela somente diz o pecado do mundo. Ela não diz os pecados do mundo. Em João 1:29 diz-se: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” A palavra pecado está no singular. O problema do pecado foi introduzido no mundo por meio de um homem e foi retirado do mundo por intermédio de um homem. O que é mencionado aqui é como o Filho de Deus lida, de modo “abstrato”, com o problema do pecado. Objetivamente falando, o pecado entrou no mundo de maneira “abstrata” por intermédio de Adão. Hoje, o Senhor Jesus está tirando e lidando com o problema do pecado de maneira “abstrata”. Isso não significa que Ele tomou a culpa do pecado de cada indivíduo. Se Ele tivesse tomado a culpa do erro de cada indivíduo, então todo o mundo já teria sido salvo. Agradecemos e louvamos ao Senhor porque a Palavra de Deus não deixa nenhuma brecha e nunca comete erros.
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