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quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A FUNÇÃO DA LEI - IV


Watchman Nee


A Lei não É o Pensamento Original de Deus
A primeira coisa que devemos ver é que a lei não foi de modo nenhum a intenção original de Deus. A lei foi acrescentada posteriormente; ela foi introduzida para satisfazer certas necessidades urgentes. Ela foi produzida para cuidar de coisas que foram introduzidas ao longo do percurso. A lei não estava na intenção original de Deus; a graça estava. Em 2 Timóteo 1:9-10 é dito: “Que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho”. Aqui o apóstolo Paulo diz-nos que Deus tinha um pensamento, e que esse pensamento começou antes dos tempos eternos, antes da criação do mundo. Esse era o pensamento original de Deus. E que tipo de pensamento era? Paulo diz que essa graça foi-nos dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos. Antes dos tempos eternos, antes de o homem pecar, e até mesmo antes da criação do mundo, Deus já havia tomado a decisão de dar-nos Sua graça por meio de Cristo Jesus. Portanto, a graça era o pensamento original de Deus. Era algo que Deus planejou desde o início de tudo.

Por que Deus quis dar-nos a graça? Paulo diz que Deus “nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça”. A vontade de Deus é dispensar Sua graça, e essa graça nos salva. Ele nos salvou e nos chamou com santo chamamento para que desfrutemos Sua glória. É isso que a graça de Deus está fazendo. Ele desejou salvar-nos e chamar-nos com santo chamamento segundo o Seu propósito, segundo o que Ele planeja fazer. Aqui Paulo foi muito cuidadoso; ele acrescentou uma frase para mostrar-nos se a lei está ou não de acordo com o propósito de Deus. Ele diz: “Não segundo as nossas obras”. A salvação de Deus não é de acordo com o quanto podemos fazer por Deus; não é segundo o quanto de responsabilidade podemos assumir diante Dele. Pelo contrário, é Deus vindo cumprir algo por nós, e é Deus dando-nos Sua graça. Essa graça sempre esteve relacionada com o Seu plano. Assim, lembremo-nos de que antes dos tempos eternos, o pensamento de Deus era a graça, não as obras nem a lei.

Paulo continua: “Que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus”. Essa graça não havia sido manifestada até agora. Portanto, vejam que, embora essa graça estivesse planejada há muito tempo, foi somente quando o Senhor Jesus veio que conhecemos o que realmente a graça era. Que faz essa graça por nós? Prossigamos lendo: “O qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho”. Quando o Senhor Jesus foi manifestado, Ele aboliu as obras bem como o resultado das obras. O resultado de obras más é a morte. Mesmo que você tenha feito as piores obras, o máximo que a lei pode fazer é exigir a sua morte. Após sua morte, a lei nada mais pode fazer.

Você poderia perguntar: “Que acontece se minhas obras não violaram a lei? Ainda assim preciso morrer?” Sim, você precisa. Mas o Senhor também anulou a morte. O Senhor aboliu as obras e também a morte. Esse é nosso evangelho, o qual foi planejado antes dos tempos eternos, embora não tenha sido manifestado até o aparecimento do Senhor Jesus. Assim, o pensamento fundamental de Deus era a graça.

Após o homem ter sido criado, tanto Adão como Eva pecaram e se rebelaram. O pecado entrou no mundo por meio de um homem. Mas Deus não deu a lei ao homem naquele tempo. Mesmo por um período de aproximadamente mil e seiscentos anos após o homem ter pecado, Deus não deu a lei ao homem. Deus não teve exigências com o homem naquele período. Deus permitiu à história que tomasse seu curso natural. Então um dia, quatrocentos e trinta anos antes de Moisés instituir a lei, Deus falou a Abraão, o pai da fé, e escolheu-o para ser aquele por meio de quem Cristo viria ao mundo. Deus escolheu Abraão e deu-lhe a grande promessa de que todas as nações seriam abençoadas pelo seu descendente (Gn 12:3; 22:18). Note que descendente é singular, não plural; é um descendente, não muitos descendentes. Paulo explicou no livro de Gálatas que este descendente refere-se ao Senhor Jesus (Gl 3:16). Quando falou a Abraão, foi a primeira vez que Deus revelou Seu propósito que fora planejado antes dos tempos eternos. Deus lhe contou Seu propósito de antes dos tempos eternos, de que por meio de seu descendente, Jesus Cristo, as nações seriam abençoadas. Abraão era um idólatra, contudo Deus o escolheu e deu-lhe uma promessa. Ele foi o primeiro homem a não ter obras; ele era uma pessoa de fé. Portanto, Deus desvendou Seu propósito diante dele.

Você deve prestar atenção a algo especial aqui. A palavra de Deus a Abraão foi incondicional. Deus simplesmente disse: “Salvarei e abençoarei o mundo por meio do seu descendente”. Ele não estabeleceu condições. Deus não disse que os descendentes de Abraão tinham de ser isso ou aquilo ou que o reino a vir por meio dele no futuro tinha de ser dessa ou daquela forma antes que ele tivesse um descendente e que o mundo fosse abençoado. Não; Deus simplesmente disse que ele teria um descendente que salvaria o mundo. Não importava se Abraão fosse bom ou mau; não importava se seus descendentes fossem bons ou maus e se seu reino fosse bom ou mau. Não havia condição imposta. Essa é a maneira como Ele desejava que fosse realizado. Ele faria com que o descendente trouxesse bênção para as pessoas no mundo.

Após essa palavra ser dita, Cristo, o Filho de Deus, não veio imediatamente ao mundo. Abraão gerou Isaque, mas Isaque não veio salvar o mundo. Isaque não era o Filho de Deus. Quatrocentos e trinta anos mais tarde, Moisés e Arão surgiram. E, embora fossem pessoas muito boas, não eram o Cristo de Deus. Por meio da revelação de Deus, Paulo chamou-nos a atenção de que o descendente de Abraão não se refere a muitos descendentes, mas a um único, que não veio senão dois mil anos mais tarde. Há um motivo forte para que o descendente não viesse antes. É verdade que Deus deseja fazer coisas para o homem, que Ele quer dar graça ao homem. Entretanto, estaria o homem disposto a permitir que Deus faça coisas para ele? Deus vê que não estamos indo bem, e quer ajudar-nos; mas ainda podemos achar que somos muito capazes. Somos maus, mas podemos achar que somos bons. Somos imundos, mas podemos considerar-nos limpos. Somos fracos, mas ainda podemos considerar-nos fortes em tudo. Somos inúteis, mas ainda podemos considerar-nos úteis. Nós, seres humanos, somos pecaminosos e completamente incapazes, mas ainda podemos considerar-nos bons e úteis. O propósito de Deus desde antes dos tempos eternos era dar graça, e, no tempo, Ele disse a Abraão que de fato daria graça ao homem. Mas por ser o homem ignorante, fraco, inútil, pecaminoso, e digno de morrer e perecer, Deus não teve escolha, senão dar a lei ao homem quatrocentos e trinta anos depois que Ele fez a promessa a Abraão. Após dar a lei ao homem, o homem descobriu que era pecaminoso. Deus pôs a lei ali para descobrir se o homem é correto ou não e se é capaz ou não. Deus pôs o peso da lei ali para ver se o homem poderia ou não levantá-lo. Lembremo-nos de que dar a lei não era a intenção original de Deus. Devo enfatizar que a lei foi algo acrescido para ir ao encontro de uma necessidade temporária. Não fazia parte da intenção original de Deus.

Vejamos o que diz Gálatas 3:15-22. Devemos considerar cuidadosamente estes versículos, pois são muito importantes. O versículo 15 diz: “Irmãos, falo como homem. Ainda que uma aliança seja meramente humana, uma vez ratificada, ninguém a revoga ou lhe acrescenta alguma coisa”. Deixemos momentaneamente de lado a aliança do homem com Deus, e consideremos primeiro as alianças que os homens celebram entre si. Suponhamos que alguém esteja vendendo uma casa, e um contrato tenha sido firmado e assinado. Pode o vendedor pensar melhor mais tarde e pedir mais duzentos dólares? Após assinar o contrato, pode ele considerar um pouco mais e, então, romper o contrato? Não. Mesmo em contratos entre os homens, uma vez que estejam assinados, é impossível acrescentar condições a eles ou subtrair condições deles. Se um contrato entre homens é assim, quanto mais uma aliança entre Deus e o homem!

Como Deus fez Sua aliança com o homem? O versículo seguinte diz: “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente”. Deus fez aliança com Abraão por meio de promessas porque dizia respeito ao futuro. O que já está realizado é graça; o que ainda não foi cumprido somente pode ser uma promessa. Porque o Senhor Jesus ainda não tinha vindo, não podemos dizer que a aliança de Deus com Abraão era graça. Sua natureza era sem dúvida graça, mas por não ter sido manifestada, ainda era uma promessa. Essa promessa foi dada a Abraão e ao seu descendente. Paulo diz: “Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo” (v. 16). O descendente é singular, não plural; é um: Cristo. Deus prometeu a Abraão que este geraria a Cristo e que por meio de Cristo as nações seriam abençoadas. O versículo 14 diz: “Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido”. Essa é a aliança que Deus firmou com Abraão.

Você poderia perguntar: Já que Deus quer abençoar as nações por meio de Cristo Jesus, por que Ele deu a lei ao homem quatrocentos e trinta anos mais tarde? Uma vez que a aliança que Deus firmou com Abraão não podia ser anulada nem acrescentada, por que o Senhor Jesus não veio simplesmente para dar-nos graça? Por que o problema da lei interveio? Você deve ver o argumento que Paulo estava usando aqui. Paulo estava explicando aqui por que, após quatrocentos e trinta anos, a lei veio. O versículo 17 diz: “E digo isto: Uma aliança já anteriormente confirmada por Deus, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não a pode ab-rogar, de forma que venha a desfazer a promessa”. Embora Deus tenha dado a lei ao homem, a aliança que Ele fez quatrocentos e trinta anos antes não podia ser desfeita. Deus não podia cancelar a aliança anteriormente feita após uma consideração adicional quatrocentos e trinta anos mais tarde. A lei é algo absolutamente contraditório à promessa e à graça. Que é promessa? É algo dado a alguém gratuitamente. Embora ele ainda não a tenha, ele definitivamente a terá mais tarde. Porém, que é a lei? A lei implica que alguém tenha de fazer isso ou aquilo para obter algo. Você pode ver que essas duas coisas são totalmente opostas. A promessa implica que Deus fará algo para o homem; a lei implica que o homem fará algo para Deus.

O versículo 18 diz: “Porque, se a herança provém de lei, já não decorre de promessa”. Se o que era para ser dado é de acordo com o princípio da lei, não pode ser de acordo com o princípio da promessa. Essas duas coisas são completamente opostas.

O versículo 19 diz: “Qual, pois, a razão de ser da lei?” Agora surge o problema. É um problema muito difícil de resolver. A lei e a promessa são basicamente contraditórias em suas naturezas. Se você tem a lei, não pode ter a promessa; se você tem a promessa, não pode ter a lei. Essas duas questões não podem ficar juntas. Mas agora há a lei e também há a promessa. Deus deu a promessa, e, então, quatrocentos e trinta anos mais tarde Ele deu a lei. Que faremos? Se a aliança feita por Deus não podia ser mudada nem por subtrair algo dela, nem por adicionar algo a ela, por que então a lei foi dada? Uma vez que uma aliança não pode ser alterada, uma promessa sempre será uma promessa, e graça sempre será graça, por que, então, há necessidade da lei?

No versículo 19 Paulo dá-nos a razão: “Foi adicionada por causa das transgressões”. Que significa adicionar algo? Recentemente fui a certo lugar trabalhar. Durante minha estada ali, certa noite fui com alguns irmãos a um restaurante para jantar. Por não termos uma casa ali, fomos a um restaurante e pedimos uma refeição de cinco pratos, que foram comidos muito rapidamente; e assim pedimos ao garçom que adicionasse mais um prato. A adição de outro prato não era nossa intenção original; ele foi adicionado para suprir uma necessidade imediata. De modo semelhante, Paulo disse que a lei foi adicionada. Na verdade, Deus não tem de nos dar a lei, tampouco Ele precisava dá-la aos judeus. Deus deu a lei aos judeus porque queria mostrar ao mundo, por meio dos judeus, que Ele dera a lei por causa das transgressões.

Por que a lei foi adicionada por causa das transgressões? Vejamos agora a última parte do versículo 15 em Romanos 4: “Mas onde não há lei, também não há transgressão”. Vejamos também Romanos 5:20: “Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa”. O propósito da lei é fazer com que a ofensa abunde. Que significa isso? O pecado entrou no mundo pelo homem; portanto, o pecado está no mundo. A morte veio a partir do pecado e começou a reinar. De Adão à Moisés, o pecado estava no mundo. Mas como podemos provar isso? Isso é evidenciado pela morte estar presente no mundo. Se não houvesse pecado de Adão até Moisés, o homem não teria morrido. O fato de que a partir de Adão até Moisés todos morreram, prova que o pecado estava ali. Embora houvesse pecado naquele tempo, não havia a lei. Portanto, havia somente o pecado, mas não a transgressão. Que é transgressão? É o pecado concretizado. Ele estava aqui no mundo, mas o homem não sabia que o pecado estava aqui até que a lei de Deus viesse. Por meio da lei Deus mostrou-nos que havíamos pecado. Na verdade, já existia o pecado em nós. Já estávamos corrompidos, mas não sabíamos disso até que a lei veio, quando o pecado dentro de nós foi manifestado em transgressões.


Fonte: www.estudobíblico.com.br

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